É muito comum no mundo da corrida encontrar vários corredores com expectativas
e níveis de exigências diferentes. Nesse universo tão diversificado, a escolha
de provas ou competições também recebe influências diretas do perfil do
corredor, que encontra nessas influências expectativas de desafios,
auto-superação, avaliações de desempenho, etc.
Faz parte do papel do técnico saber e poder auxiliar seu atleta na escolha da
competição adequada às suas condições físicas, técnicas e psicológicas, com a retaguarda
de logística que favoreça a conquista do resultado esperado.
Isso porque, no pensamento simplista da maioria dos corredores, o ideal é
sempre diminuir seu tempo para uma determinada distância, sem levar em
consideração o modo de preparação para uma prova, as dificuldades, as vantagens
e desvantagens existentes na prova e como isso poderá influenciar o resultado.
Trabalhando com muitos corredores, presencio a necessidade dos atletas de
estarem em competição para não perder a motivação em seu treinamento. Percebo
que muitos são fascinados por quase todas competições e, ao invés de fazerem
bom uso dessa experiência, como participar desses eventos, elas tornam-se um
grande martírio, por não conseguirem alcançar em todas as provas, logicamente,
resultados significativos. A explicação para isso é que, se fossemos melhorar
sempre, nossos resultados pessoais tenderiam ao infinito, sem limites, onde
todos se convergeriam para recordes e mais recordes.
Esbarramos no limite do ser humano, de cada organismo, que reage afim de modo a
colocar barreiras a possíveis "torturas" que criamos ao colocarmos
nossos corpos voltados às conquistas almejadas. A grande maioria dessas
barreiras são o aparecimento de dores, lesões, a "auto-enganação",
que ocorre ao não assumirmos nossos limites e ficarmos sustentando outras
justificativas, etc.
Nosso trabalho valoriza a potencialização do ser humano, no sentido de correr
em busca do rendimento respaldado em auto-conhecimento, em atitudes coerentes
com nossos limites, seja do ponto de vista físico, psicológico,
sócio-econômico, etc.
Portanto, a escolha das provas a serem disputadas entra nesse contexto, tendo
que ser validada por algum destes parâmetros que justifique tal competição.
Por presenciar inúmeras provas, fica claro quando o nível de expectativas está
coerente com a dedicação empregada para tal conquista. Precisamos sempre
mostrar ao atleta a verdade do que esperar, racionalizar possíveis resultados e
trabalhar de forma positiva com as respostas que poderão surgir, sejam as
glórias de uma vitória ou as frustrações de uma derrota. Estar atento e tirar
de cada resultado uma experiência de vida, algo a mais que possa influenciar
outras condutas que não seja meramente esportiva, cria um diferencial no
corredor.
Valorizo quem corre por prazer, se a intenção é essa. Por trabalhar com
competições, é claro que admiro muito os corredores que assumem a
responsabilidade de vencer algum desafio e que se preparam para enfrentá-lo. O
que me entristece é o corredor que fica no meio do caminho, sem saber qual é o
seu foco no mundo da corrida. Não sente o prazer de correr livre, sem cobranças
e também não lida bem com disciplina, com responsabilidade, com cobranças
normais do treinamento para vencer os desafios.
Podem ter certeza que a maioria dos corredores se encontram nesse meio do
caminho. Achar um foco, fazer algo sério, é o que realmente falta para quem se
sujeita a querer melhorar. Trabalhar com as reais necessidades de cada ser humano
exige do técnico-orientador um certo "feeling" para poder ministrar
algo que desperte vontade e aderência para se submeter a um programa dirigido.
Bons Treinos!!
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